Em menos de 70 dias, será dada a largada oficial à campanha eleitoral que elegerá, em 2 de outubro, prefeitos e vereadores em todo o país. Ao contrário de pleitos anteriores, este vem com uma cartilha nova: proibição de contribuições de empresas, tempo reduzido de campanha (de 90 para 45 dias) e ainda limitações à publicidade em vias públicas (veja as regras na página ao lado). Mas limite é algo que a classe política desconhece, como afirmam os especialistas ouvidos pela reportagem. Frente a um calendário eleitoral que, em tese, traz restrições, partidos e pré-candidatos precisam ter planejamento e estratégias bem definidas. E se, por um lado, a campanha será mais curta, a chamada pré-campanha já está nas ruas e nos bairros.
Como não há números nem frases em referência à candidatura, a abordagem é permitida pela lei eleitoral. Os pré-candidatos – seja à prefeitura (que tem oito nomes) ou à vereança – fazem corpo a corpo em busca de uma simpatia e de aceitação que resulte na confirmação do voto na urna eletrônica.
O Diário esteve em cinco bairros de diferentes regiões da cidade. E em dois residenciais, o Zilda Arns e o Dom Ivo Lorscheiter, constatou que o clima de campanha velada existe. No Zilda Arns, que fica na Vila Maringá, a reportagem verificou, pelo menos, 51 adesivos com indícios que configurariam a existência de campanha velada em curso. A maioria dos materiais traz nomes de concorrentes à vereança, no pleito de outubro de 2012. O nome de um suplente de vereador estampa a maioria dos adesivos colados em portas e janelas das casas.
Em igual proporção, há material de um outro homem que concorreu à vereança quatro anos atrás. Nos dois casos não há números de votação ou qualquer referência a partidos. Contudo, os moradores afirmam que eles se apresentam como candidatos.
– Eles são sim (candidatos). Um deles traz seguido, aqui, balas para a criançada. E o outro já saiu prometendo luz e posto de saúde. Uma piada esses sujeitos. Mas o meu voto nenhum deles vai ter – diz um morador incomodado.
Já no loteamento Dom Ivo Lorscheiter, também na Vila Maringá, foram contabilizados mais de 20 adesivos – muitos da mesma dupla antes mencionada. Na Vila Jockey Clube, na Região Oeste, a equipe de reportagem encontrou um carro, no pátio de uma casa, ornado com o outdoor de um prefeiturável.
Mas não é só nas partes mais afastadas da cidade que os pré-candidatos se movem em busca de votos. No Centro, seja nos finais de tarde ou nas manhãs de sábado, é possível ver candidatos a prefeito e à vereança desfilando com um olhar que mira a todo e qualquer eleitor. Eles também distribuem recados como, por exemplo, ¿conto contigo¿.
Se quem está de fora quer entrar, quem está no poder, Executivo ou no Legislativo, o desejo é um só: manter-se dentro da engrenagem da máquina pública. Nas ruas dos bairros Noal e Salgado Filho, o Diário encontrou a equipe de um vereador, com os chamados CCs, visitando os eleitores. A dupla atualizava cadastros de moradores e entregava informativos sobre a produtividade do vereador.
A chamada minirreforma eleitoral trouxe alterações que impactarão no curso do pleito deste ano. Diante de regras que proíbem doações de empresas para campanhas eleitorais, os presidentes de partidos e pré-candidatos a prefeito repetem como um mantra que irão recorrer à militância em busca de doações individuais para colocar de pé campanhas de candidatos a prefeito, vice e vereador. Essa é a versão oficial.
Mas no mundo real, onde os políticos transitam com extrema desenvoltura e flexibilidade, o entendimento é outro: o financiamento eleitoral não ficará restrito ao que prevê a lei. O cientista político e professor de Teoria Social da Unipampa, Guilherme Howes, avalia que com a proibição de empresas doarem a candidatos e partidos políticos, as eleições municipais de 2016 poderão representar a explosão do caixa dois:
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